quinta-feira, 8 de outubro de 2009

EU NÃO TINHA TEMPO...


Hoje, ao atender o telefone, que insistentemente exigia atenção, o meu mundo desabou.
Entre soluços e lamentos, a voz do outro lado da linha me informava que o meu melhor amigo, meu companheiro de jornada, meu ombro camarada, havia sofrido um grave acidente, vindo a falecer quase que instantaneamente.Lembro de ter desligado o telefone e caminhado a passos lentos para meu quarto, meu refúgio particular.As imagens de minha juventude vieram quase que instantaneamente à mente.

A faculdade, as bebedeiras, as conversas até altas horas da noite, as confidências ao pé-do-ouvido, as colas, a cumplicidade, os sorrisos... As risadas... eram fáceis de surgir naquela época.Lembrei da formatura, de um novo horizonte surgindo...Das lágrimas de despedidas, e principalmente, das promessas de novos encontros.Lembro a promessa de que eu nunca seria esquecido.E realmente, nunca fui.

Perdi a conta das vezes em que ele carinhosamente me ligava, ou das mensagens - que nunca respondia - que ele constantemente me enviava, enchendo minha caixa postal de mensagens e de esperanças.

Apesar do esforço para vasculhar minha mente, não consegui me lembrar de uma só vez em que peguei o telefone para ligar e dizer a ele o quanto era importante para mim contar com a sua amizade.

Afinal, eu era uma pessoa muito ocupada. Eu não tinha tempo...

Não lembro de uma só vez em que me preocupei de procurar um texto edificante e enviar para ele, ou qualquer outro amigo, com o intuito de tornar o seu dia melhor.

Eu não tinha tempo...

Não lembro de ter feito qualquer tipo de surpresa, como aparecer de repente com uma garrafa de vinho e um coração aberto disposto a ouvir.

Eu não tinha tempo...

Não lembro de qualquer dia em que eu estivesse disposto a ouvir os seus problemas.

Eu não tinha tempo...

Acho que eu nunca sequer imaginei que ele tinha problemas.Só agora vejo com clareza o meu egoísmo.Talvez - e este talvez vai me acompanhar eternamente - se eu tivesse prestado um pouco de atenção e despendido um pouquinho do meu sagrado tempo.Talvez ele, que sempre inundou o meu mundo com sua iluminada presença, estivesse se sentindo sozinho.

Até mesmo as mensagens engraçadas que ele constantemente mandava poderiam ser seu jeito de pedir ajuda.Estas indagações que inundam agora o meu ser nunca mais terão resposta.

A minha falta de tempo me impediu de respondê-las.

Agora, lentamente escolho uma roupa preta - digna do meu estado de espírito e pego o telefone. Aviso o meu chefe de que não irei trabalhar hoje e quem sabe nem amanhã, nem depois...

Pois irei tirar o dia para homenagear com meu pranto a uma das pessoas que mais amei nesta vida.

Ao desligar o telefone, com surpresa eu vejo, entre lágrimas e remorsos, de que para isto, para acompanhar durante um dia inteiro o seu corpo sem vida, eu TIVE TEMPO!
Descobri que se você não toma as rédeas de sua vida o tempo te engole e te escraviza.Trabalho com o mesmo afinco de sempre, mas somente sou "o profissional" durante o expediente normal.Fora dele, sou um ser humano. Nunca mais minhas mensagens recebidas ficaram sem pelo menos um "oi" de retorno.

Procuro constantemente encher a caixa eletrônica dos meus amigos com mensagens de amizade, humor e dias melhores.Escrevo cartões de aniversário e de natal, sempre lembro as pessoas de como elas são importantes para mim.

Abraço constantemente meus irmãos e minha família, pois os laços que nos unem são eternos.Esses momentos costumam desaparecer com o tempo, e todo o cuidado é pouco.Distribuo sorrisos e abraços a todos que me rodeiam - afinal, para que guardá-los?


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Volte Sempre

A imaginação é mais importante que a ciência, porque a ciência é limitada, ao passo que a imaginação abrange o mundo inteiro.

Albert Einstein