quarta-feira, 23 de setembro de 2009


Nos tempos das fadas e bruxas,um moço achou em seu caminho
uma pedra que emitia um brilho diferente de todas as que ele já conhecera.

Impressionado, decidiu levá-la para casa.
Era uma pedra do tamanho de um limão e pertencia a uma fada,
que a perdera por aqueles caminhos, em seu passeio matinal.

Era a Pedra da Felicidade.
Possuía o poder de transformar desejos em realidade.
A fada, ao se dar conta de que havia perdido a pedra, consultou sua fonte de adivinhação e viu o que havia ocorrido.

Avaliou o poder mágico da pedra e, como a pessoa que a havia
encontrado era um jovem de família pobre e sofredora,
concluiu que a pedra poderia ficar em seu poder,
despreocupando-se quanto à sua recuperação.

Decidiu ajudá-lo. Apareceu ao moço em sonho e disse-lhe que
a pedra tinha poderes para atender a três pedidos:
um bem material, uma alegria e uma caridade.

Mas que esses benefícios somente poderiam
ser utilizados em favor de outras pessoas.
Para atingir o intento, cabia-lhe pensar no pedido
e apertar a pedra entre as mãos.
O moço acordou desapontado.

Não gostou de saber que os poderes da pedra somente poderiam
ser revertidos em proveito dos outros.
Queria que fossem para ele.
Tentou pedir alguma coisa para si,
apertando a pedra entre as mãos, sem êxito.

Assim, resolveu guardá-la, sem muito interesse em seu uso.
Os anos se passaram e este moço tornou-se bem velhinho.
Certo dia, rememorando seu passado
concluiu que havia levado uma vida infeliz,
com muitas dificuldades, privações e dissabores.

Tivera poucos amigos, porém, reconhecia ter sido muito egoísta.
Jamais quisera o bem para os outros.
Antes, desejava que todos sofressem tanto quanto ele.
Reviu a pedra que guardara consigo durante
quase toda sua existência;
lembrou-se do sonho e dos prováveis poderes da pedra.
Decidiu usá-la, mesmo sendo em proveito dos outros.

Assim, realizou o desejo de uma jovem, disponibilizando-lhe um bem material.
Proporcionou uma grande alegria a uma mãe revelando
o paradeiro de uma filha há anos desaparecida e,
por último, diante de um doente,
condoeu-se de suas feridas, ofertando-lhe a cura.

Ao realizar o terceiro benefício, aconteceu o inesperado:
a pedra transformou-se numa nuvem de fumaça e,
em meio a esta nuvem, a fada -
vista no sonho que tivera logo ao achar a pedra - surgiu, dizendo:
- Usaste a Pedra da Felicidade.
O que me pedires, para ti, eu farei.

Antes, devias fazer o bem aos outros, para mereceres o
atendimento de teu desejo.
Por que demoraste tanto tempo para usá-la?
O homem ficou muito triste ao entender o que se passara.

Tivera em suas mãos, desde sua juventude,
a oportunidade de construir uma vida plena de felicidade,
mas, fechado em seu desamor jamais pensara
que fazendo o bem aos outros colheria o bem para si mesmo.

Lamentando o seu passado de dor e seu erro em desprezar os outros,
pediu comovido e arrependido:
- Dá-me, tão somente,
a felicidade de esquecer o meu passado egoísta.

(Fonte: "Histórias que ninguém contou,
conselhos que ninguém deu." )

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A Mamãe Camelo e seu bebê.




Uma mãe e um bebê camelo estavam por ali, à toa,quando de repente o bebê camelo perguntou:
Mãe, mãe, posso te perguntar umas coisas?

Claro! O que está incomodando o meu filhote?

Porquê os camelos têm corcova?

Bem, meu filhinho, nós somos animais do deserto, precisamos das corcovas para reservar água e por isso mesmo somos conhecidos por sobreviver sem água.

Certo, e porquê nossas pernas são longas e nossas patas arredondadas?

Filho, certamente elas são assim para permitir caminhar no deserto.
Com essas pernas eu posso me movimentar pelo deserto melhor do que qualquer um! disse a mãe, toda orgulhosa.

Certo! Então, porquê nossos cílios são tão longos? De vez em quando eles atrapalham minha visão.

Meu filho! Esses cílios longos e grossos são como uma capa protetora para os olhos.
Eles ajudam na proteção dos seus olhos quando atingidos pela areia e pelo vento do deserto! disse a mãe com orgulho nos olhos.

Tá. Então a corcova é para armazenar água enquanto cruzamos o deserto, as pernas para caminhar através do deserto e os cílios são para proteger meus olhos do deserto.
Então que diabos estamos fazendo aqui no Zoológico???????

Moral da história
"Habilidade, conhecimento, capacidade e experiências
são úteis se você estiver no lugar certo!"

(ONDE você está agora ???)

A vaca



Um mestre da sabedoria passeava por uma floresta com seu fiel discípulo quando avistou ao longe um sítio de aparência pobre e resolveu fazer uma boa visita. Durante o percurso, falou ao aprendiz sobre a importância das visitas e as oportunidades de aprendizado que temos também com as pessoas que mal conhecemos. Chegando ao sítio, constatou a pobreza do lugar, sem calçamento, casa de madeira e viu os moradores: um casal e seus três filhos vestidos com roupas rasgadas e sujas. Ao se aproximar do dono do sítio, perguntou: "Neste lugar não há sinais de comércio e de trabalho; como o senhor e sua família sobrevivem aqui?" Calmamente o homem respondeu: "Meu amigo, nós temos uma vaquinha que nos dá vários litros de leite todos os dias. Uma parte desse produto nós vendemos ou trocamos na cidade vizinha por outros gêneros de alimentos e a outra nós produzimos queijo, coalhada, etc, para nosso consumo. E assim vamos sobrevivendo." O sábio agradeceu a informação, contemplou o lugar por uns momentos e depois se despediu e foi embora. No meio do caminho, voltou ao seu fiel discípulo e ordenou: "Pegue a vaca, leve-a ao precipício ali em frente, empurre-a e jogue-a lá em baixo." O jovem arregalou os olhos espantadíssimo! Questionou o mestre sobre o fato da vaca ser o único meio de sobrevivência daquela família mas como recebeu apenas um silêncio profundo do mestre cumpriu a ordem: empurrou a vaca morro abaixo e a viu morrer. Aquela cena ficou marcada na memória do jovem discípulo durante anos. Um belo dia, resolveu largar tudo o que havia aprendido com seu mestre e voltar naquele mesmo lugar para contar àquela família o que acontecera, pedir perdão e ajudá-los no que fosse possível. Assim fez e quando se aproximava do local avistou um sítio muito bonito, com árvores floridas, todo murado, com carro na garagem e algumas crianças brincando no jardim. Ficou triste e desesperado imaginando que aquela família tivera de vender o sítio para sobreviver. Apertou o passo e chegando lá foi recebido por um caseiro muito simpático a quem perguntou sobre a família que ali morava há alguns anos e o caseiro respondeu: "continuam morando aqui." Muito espantado, ele entrou correndo na propriedade e viu que era a mesma família que visitara antes com o mestre. Elogiou o local e perguntou ao dono do sítio: "como o senhor melhorou tanto aquele sítio e está bem de vida?" O dono do sítio, muito entusiasmado respondeu: "nós tínhamos uma vaquinha que caiu no precipício e morreu. Daí em diante, tivemos que fazer outras coisas desenvolvendo habilidades que nem sabíamos que possuímos e alcançamos o sucesso que os seus olhos vislumbram agora."

TODOS NÓS TEMOS UMA VAQUINHA QUE NOS DÁ ALGUMA COISA BÁSICA PARA A SOBREVIVÊNCIA E CONVIVEMOS COM A ROTINA. DESCUBRA, COM AS INFORMAÇÕES QUE VOCÊ RECEBERA NESTE TEXTO QUAL É A SUA VAQUINHA E A EMPURRE MORRO ABAIXO! Seja feliz!!!!!!

A Lição



Éramos a única família no restaurante com uma criança.
Eu coloquei Daniel numa cadeira para crianças e notei que todos estavam tranqüilos, comendo e conversando.
De repente, Daniel gritou animado, dizendo: "Ola, amigo!", batendo na mesa com suas mãozinhas gordas.
Seus olhos estavam bem abertos pela admiração e sua boca mostrava a falta de dentes.
Com muita satisfação, ele ria, se retorcendo.
Eu olhei em volta e vi a razão de seu contentamento.
Era um homem andrajoso, com um casaco jogado nos ombros: sujo, engordurado e rasgado.
Suas calcas eram trapos com as costuras abertas ate a metade, e seus dedos apareciam através do que foram, um dia, os sapatos. Sua camisa estava suja e seu cabelo não havia sido penteado por muito tempo. Seu nariz tinha tantas veias que parecia um mapa.
Estávamos um pouco longe dele para sentir seu cheiro, mas asseguro que cheirava mal.
Suas mãos começaram a se mexer para saudar. "Ola, neném. Como esta você?", disse o homem a Daniel. Minha esposa e eu nos olhamos:
"Que faremos?".
Daniel continuou rindo e respondeu,
"Ola, ola, amigo".
Todos no restaurante nos olharam e logo se viraram para o mendigo.
O velho sujo estava incomodando nosso lindo filho.
Trouxeram a comida e o homem começou a falar com o nosso filho como um bebe. Ninguém acreditava que o que o homem estava fazendo era simpático.
Obviamente,ele estava bêbado.
Minha esposa e eu estávamos envergonhados. Comemos em silencio; menos Daniel que estava superinquieto e mostrando todo o seu repertorio ao desconhecido, a quem conquistava com suas criancices.
Finalmente, terminamos de comer e nos dirigimos a porta. Minha esposa foi pagar a conta e eu lhe disse que nos encontraríamos no estacionamento.
O velho se encontrava muito perto da porta de saída.
"Deus meu, ajuda-me a sair daqui antes que este louco fale com Daniel", disse orando, enquanto caminhava perto do homem.
Estufei um pouco peito, tratando de sair sem respirar nem um pouco do ar que ele pudesse estar exalando.
Enquanto eu fazia isto, Daniel se voltou rapidamente na direção onde estava o velho e estendeu seus braços na posição de "carrega-me".
Antes que eu pudesse impedir, Daniel se jogou dos meus braços para os braços do homem.
Rapidamente, o velho fedorento e o menino consumaram sua relação de amor.
Daniel, num ato de total confiança, amor e submissão, recostou sua cabeça no ombro do desconhecido.
O homem fechou os olhos e pude ver lagrimas correndo por sua face.
Suas velhas e maltratadas mãos cheias de cicatrizes, dor e trabalho duro, suave, muito suavemente, acariciavam as costas de Daniel.
Nunca dois seres haviam se amado tão profundamente em tão pouco tempo.
Eu me detive, aterrado. O velho homem, com Daniel em seus braços, por um momento abriu seus olhos e olhando diretamente nos meus, me disse com voz forte e segura:
"Cuide deste menino".
De alguma maneira, com um imenso no na garganta, eu respondi:
"Assim o farei". Ele afastou Daniel de seu peito, lentamente, como se sentisse uma dor.
Peguei meu filho e o velho homem me disse:
"Deus o abençoe, senhor. você me deu um presente maravilhoso". não pude dizer mais que um entrecortado "obrigado".
Com Daniel nos meus braços, caminhei rapidamente ate o carro. Minha esposa perguntava por que eu estava chorando e segurando Daniel tão fortemente, e por que estava dizendo:
"Deus meu, Deus meu, me perdoe".
Eu acabava de presenciar o amor de Cristo através da inocência de um pequeno menino que não viu pecado, que não fez nenhum juízo; um menino que viu uma alma e uns adultos que viram um montão de roupa suja.
Eu fui um cristão cego carregando um menino que não era.

Eu senti que Deus estava me perguntando:
"Estas disposto a dividir seu filho por um momento?", quando Ele compartilhou Seu Filho por toda a eternidade.

Uma lenda, um acalanto .......




Não sei se é verdade...e não importo-me com isso.
Não precisa ser.....

Foi há muito tempo atrás...depois do mundo ser criado
e da vida completá-lo.
Num dia, numa tarde de céu azul e calor ameno.
Um encontro entre Deus e um de seus incontáveis anjos.
Acredita?

Deus estava sentado, calado. Sob a sombra de um pé de jabuticaba.
Lentamente sem pecado, Deus erguia suas mãos
então colhia uma ou outra fruta.

Saboreava sua criação negra e adocicada.
Fechava os olhos e pensava.
Permitia-se um sorriso piedoso.
Mantinha seu olhar complacente.

Foi então que das nuvens um de seus muitos arcanjos
desceu e veio em sua direção.

Já ouviu a voz de um anjo?
É como o canto de mil baleias.
É como o pranto de todas as crianças do mundo.
É como o sussurro da brisa.

Ele tinha asas lindas....brancas, imaculadas.

Ajoelhou-se aos pés de Deus e falou.

"Senhor...visitei sua criação como pediu.
Fui a todos os cantos.
Estive no sul, no norte.
No leste e oeste.
Vi e fiz parte de todas as coisas.
Observei cada uma de suas crianças humanas.
E por ter visto vim até o Senhor....para tentar entender.
Por que? Por que cada uma das pessoas sobre a terra
tem apenas uma asa?
Nós anjos temos duas...
podemos ir até o amor que o Senhor representa
sempre que desejarmos.
Podemos voar para a liberdade sempre que quisermos.
Mas os humanos com sua única asa não podem voar.

Não podem voar com apenas uma asa..."

Deus na brandura dos gestos, respondeu pacientemente ao seu anjo.
"Sim...eu sei disso. Sei que fiz os humanos com apenas uma asa..."
Intrigado, com a consciência absoluta de seu Senhor o anjo queria
entender e perguntou.


"Mas por que o Senhor deu aos homens apenas uma asa quando são
necessárias duas asas para poder-se voar....para poder-se ser livre?"

Conhecedor que era de todas as respostas Deus
não teve pressa para falar.

Comeu outra jabuticaba, obscura e suave.
Então respondeu...

"Eles podem voar sim meu anjo.
Dei aos humanos apenas uma asa para que eles
pudessem voar mais e melhor
que Eu ou vocês meus arcanjos....
Para voar, meu amigo, você precisa de suas duas asas...
Embora livre, sempre estará sozinho.
Talvez da mesma maneira que Eu....

Mas os humanos....os humanos com sua única asa
precisarão sempre dar as mãos para alguém
a fim de terem suas duas asas.
Cada um deles tem na verdade
um par de asas....
uma outra asa em algum lugar do mundo que completa o par.

Assim eles aprenderão a respeitarem-se pois
ao quebrar a única asa de outra pessoa podem
estar acabando com as suas próprias chances de voar.

Assim meu anjo, eles aprenderão a amar
verdadeiramente outra pessoa...
aprenderam que somente permitindo-se amar eles poderão voar.
Tocando a mão de outra pessoa em um abraço
correto e afetuoso eles
poderão encontrar a asa que lhes falta...
e poderão finalmente voar.
Somente através do amor irão chegar até onde estou...

assim como você meu anjo.

E eles nunca....nunca estarão sozinhos quando forem voar."

Deus silenciou em seu sorriso.
O anjo compreendeu o que não precisava ser dito.


E assim sendo, no fim desse conto,

espero que um dia você encontre a sua outra asa.
Para finalmente poder voar.


(Moacir Novaes )

Se eu pudesse...



Se eu pudesse deixar algum presente a você ,
deixaria aceso o sentimento de amar a vida dos seres humanos .
A consciência de aprender tudo o que foi ensinado pelo tempo a fora.
Lembraria os erros que foram cometidos
para que não mais se repetissem.
A capacidade de escolher novos rumos.
Deixaria para você se pudesse ,
o respeito àquilo que é indispensável;
ALÉM DO PÃO , O TRABALHO
Além do trabalho...A Ação.
E , quando tudo mais faltasse , um segredo:
O de buscar no interior de si mesmo
a resposta e a força para encontrar a saída.

(GANDI)

QUANTOS AMIGOS VOCÊ TEM?!?




Um velho voltou-se para mim e perguntou:
"Quantos amigos você tem?"
Uns dez ou vinte por quê?
Ele levantou-se com esforço e
tristemente agitou a cabeça...

"Você é uma garota de sorte para ter tantos amigos..."
disse ele.
Existe uma coisa que você não sabe,
um amigo não é apenas alguém
para quem você diz "olá"...

Um amigo é um ombro tenro no qual se chora suavemente...
Um poço para levantar seu espírito bem alto...
Um amigo é uma mão para te puxar para fora...
Da escuridão e desespero...
Quando todos os outros "supostos" amigos ajudaram a te
colocar lá.

Um amigo verdadeiro é um aliado que não pode ser movido
ou comprado...
Uma voz que deixa seu nome vivo quando outros o
esquecem...
"E responda mais uma vez...
Quantos amigos você tem????"
E então ele se levantou e me olhou
esperando a resposta...
Suavemente respondi:
"Se eu tiver sorte... Eu terei você!!"

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A literatura


“O mais importante é entender que a literatura, seja oral ou escrita, é para ser brincada, dividida,

compartilhada. Sejamos, portanto, solidários na vida e nos contos. De mãos dadas vamos

atravessar o caminho onde nossas histórias se cruzam, se completam, se constróem”.

Uma Fábula Sobre a Fábula



Allahur Akbar! Allahur Akbar!
(Deus é Grande)

Q uando Deus criou a mulher, criou também a Fantasia. Um dia, a Verdade resolveu visitar um grande palácio. E havia de ser o próprio palácio em que morava o sultão Harum Al Raschid.
Envoltas as lindas formas num véu claro e transparente, foi ela bater à porta do rico palácio em que vivia o glorioso senhor das terras muçulmanas. Ao ver aquela formosa mulher, quase nua, o chefe dos guardas perguntou-lhe:

- Quem és?
- Sou a Verdade! - respondeu ela, com voz firme. - Quero falar ao vosso amo e senhor, o sultão Harum Al-Raschid, o sheik do Islã!
O chefe dos guardas, zeloso da segurança do palácio, apressou-se em levar a nova ao grão-vizir:
- Senhor - disse, inclinando-se humilde -, uma mulher desconhecida, quase nua, quer falar ao nosso soberano, o sultão Harum Al-Raschid, Príncipe dos Crentes.
- Como se chama?
- Chama-se a Verdade!
- A Verdade! - exclamou o grão-vizir, subitamente assaltado de grande espanto. - A Verdade quer penetrar neste palácio! Não! Nunca! Que seria de mim, que seria de todos nós, se a Verdade aqui entrasse? A perdição, a desgraça nossa! Diz-lhe que uma mulher nua, despudorada, não entra aqui!
Voltou o chefe dos guardas com o recado do grão-vizir e disse à Verdade:
- Não podes entrar, minha filha. A tua nudez iria ofender o nosso califa. Com ares impudicos não poderás ir à presença do Príncipe dos Crentes, o nosso glorioso sultão Harum Al-Raschid. Volta pois, pelos caminhos de Allah!
Vendo que não conseguiria realizar o seu intento, ficou muito triste a Verdade, e afastou-se lentamente do grande palácio do magnânimo sultão Harum Al-Raschid, cujas portas se fecharam à diáfana formosura!
Mas…
Allahur Akbar! Allahur Akbar! (Deus é Grande)
Quando Deus criou a mulher, criou também a obstinação. E a Verdade continuou a alimentar o propósito de visitar um grande palácio. E havia de ser o próprio palácio em que morava o sultão Harum Al-Raschid…
Cobriu as peregrinas formas de um couro grosseiro como os que usam os pastores e foi novamente bater à porta do suntuoso palácio em que vivia o glorioso senhor das terras muçulmanas.
Ao ver aquela formosa mulher grosseiramente vestida com peles, o chefe dos guardas perguntou-lhe.
- Quem és?
- Sou a Acusação! – respondeu ela, em tom severo. Quero falar ao vosso amo e senhor, o sultão Harum Al-Raschid. Comendador dos Crentes.
O chefe dos guardas, zeloso da segurança do palácio, correu a entender-se com o grão-vizir.
- Senhor – disse, inclinando-se humilde -, uma mulher desconhecida, o corpo envolto em grosseiras peles, deseja falar ao nosso soberano, o sultão Harum Al-Raschid.
- Como se chama?
- A Acusação!
- A Acusação? – repetiu o grão-vizir, aterrorizado. – A Acusação quer entrar neste palácio? Não! Nunca! Que seria de mim, que seria de todos nós, se a Acusação aqui entrasse! A perdição, a desgraça nossa! Diz-lhe que uma mulher, sob vestes grosseiras de um zagal, não pode falar ao Califa, nosso amo e senhor.
Voltou o chefe dos guardas com a proibição do grão-vizir e disse à Verdade:
- Não podes entrar, minha filha. Com essas vestes grosseiras, próprias de um beduíno rude e pobre, não poderás falar ao nosso amo e senhor, o sultão Harum Al-Raschid. Volta, pois, em paz, pelos caminhos de Allah.
Vendo que não conseguiria realizar o seu intento, ficou ainda mais triste a Verdade e afastou-se vagarosamente do grande palácio do poderoso Harum Al-Raschid, cuja cúpula cintilava aos últimos clarões do sol poente.
Mas…
Allahur Akbar! Allahur Akbar! (Deus é Grande)
Quando Deus criou a mulher criou também o capricho.
E a Verdade entrou-se do vivo desejo de visitar um grande palácio. E havia de ser o próprio palácio em que morava o sultão Harum Al-Raschid.
Vestiu-se com riquíssimos trajes, cobriu-se com jóias e adornos, envolveu o rosto em um manto diáfano de seda e foi bater à porta do palácio em que vivia o glorioso senhor dos Árabes.
Ao ver aquela encantadora mulher, linda como a quarta lua do mês de Ramadã, o chefe dos guardas perguntou-lhe:
- Quem és?
- Sou a Fábula – respondeu ela, em tom meigo e mavioso. – Quero falar ao vosso amo e senhor, o generoso sultão Harum Al-Raschid, Emir dos Árabes!
O chefe dos guardas, zeloso da segurança do palácio, correu, radiante, a falar com o grão-vizir.
- Senhor – disse, inclinando-se, humilde -, uma linda e encantadora mulher, vestida como uma princesa, solicita audiência de nosso amo e senhor, o sultão Harum Al-Raschid, Emir dos Crentes.
- Como se chama?
- Se chama Fábula!

- A Fábula! – exclamou o grão-vizir, cheio de alegria. – A Fábula quer entrar neste palácio! Allah seja louvado! Que entre! Bem-vinda seja a encantadora Fábula. Cem formosas escravas irão recebê-la com flores e perfumes. Quero que a Fábula tenha, neste palácio, o acolhimento digno de uma verdadeira rainha!
E abertas de par em par as portas do grande palácio de Bagdá, a formosa peregrina entrou.
E foi assim, sob o aspecto da Fábula, que a Verdade conseguiu aparecer ao poderoso califa de Bagdá, o sultão Harum Al-Raschid, Vigário de Allah e senhor do grande império muçulmano.


Lenda árabe

recontada por Malba Tahan

Volte Sempre

A imaginação é mais importante que a ciência, porque a ciência é limitada, ao passo que a imaginação abrange o mundo inteiro.

Albert Einstein