terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A Pequena Vendedora de Fósforos



"Que frio tão atroz! Caía a neve, e a noite vinha por cima. Era dia de Natal. No meio do frio e da escuridão, uma pobre menina passou pela rua com a cabeça e os pés descobertos.
É verdade que tinha sapatos quando saíra de casa; mas não lhe serviram por muito tempo. Eram uns tênis enormes que sua mãe já havia usado: tão grandes, que a menina os perdeu quando atravessou a rua correndo, para que as carruagens que iam em direções opostas não lhe atropelassem.
A menina caminhava, pois, com os pezinhos descalços, que estavam vermelhos e azuis de frio. Levava no avental algumas dúzias de caixas de fósforos e tinha na mão uma delas como amostra. Era um péssimo dia: nenhum comprador havia aparecido, e, por conseqüência, a menina não havia ganho nem um centavo. Tinha muita fome, muito frio e um aspecto miserável. Pobre menina! Os flocos de neve caíam sobre seus longos cabelos loiros, que se esparramavam em lindos caracóis sobre o pescoço; porém, não pensava nos seus cabelos. Via a agitação das luzes através das janelas; sentia o cheiro dos assados por todas as partes. Era dia de Natal, e nesta festa pensava a infeliz menina.
Sentou-se em uma pracinha, e se acomodou em um cantinho entre duas casas. O frio se apoderava dela, e inchava seus membros; mas não se atrevia a aparecer em sua casa; voltava com todos os fósforos e sem nenhuma moeda. Sua madrasta a maltrataria, e, além disso, na sua casa também fazia muito frio. Viviam debaixo do telhado, a casa não tinha teto, e o vento ali soprava com fúria, mesmo que as aberturas maiores haviam sido cobertas com palha e trapos velhos. Suas mãozinhas estavam quase duras de frio. Ah! Quanto prazer lhe causaria esquentar-se com um fósforo! Se ela se atrevesse a tirar só um da caixa, riscaria na parede e aqueceria os dedos! Tirou um! Rich! Como iluminava e como esquentava! Tinha uma chama clara e quente, como de uma velinha, quando a rodeou com sua mão. Que luz tão bonita! A menina acreditava que estava sentada em uma chaminé de ferro, enfeitada com bolas e coberta com uma capa de latão reluzente. Luzia o fogo ali de uma forma tão linda! Esquentava tão bem!
Mas tudo acaba no mundo. A menina estendeu seus pezinhos para esquentá-los também, mas a chama se apagou: não havia nada mais em sua mão além de um pedacinho de fósforo. Riscou outro, que acendeu e brilhou como o primeiro; e ali onde a luz caiu sobre a parede, fez-se tão transparente como uma gaze. A menina imaginou ver um salão, onde a mesa estava coberta por uma toalha branca resplandecente com finas porcelanas, e sobre a qual um peru assado e recheado de trufas exalava um cheiro delicioso. Oh, surpresa! Oh, felicidade! Logo teve a ilusão de que a ave saltava de seu prato para o chão, com o garfo e a faca cravados no peito, e rodava até chegar a seus pezinhos. Mas o segundo fósforo apagou-se, e ela não viu diante de si nada mais que a parede impenetrável e fria.
Acendeu um novo fósforo. Acreditou, então, que estava sentada perto de um magnífico nascimento: era mais bonito e maior que todos os que havia visto aqueles dias nas vitrines dos mais ricos comércios. Mil luzes ardiam nas arvorezinhas; os pastores e pastoras pareciam começar a sorrir para a menina. Esta, embelezada, levantou então as duas mãos, e o fósforo se apagou. Todas as luzes do nascimento se foram, e ela compreendeu, então, que não eram nada além de estrelas. Uma delas passou traçando uma linha de fogo no céu.
Isto quer dizer que alguém morreu — pensou a menina; porque sua vovozinha, que era a única que havia sido boa com ela, mas que já não estava viva, havia lhe dito muitas vezes: "Quando cai uma estrela, é que uma alma sobe para o trono de Deus".
A menina ainda riscou outro fósforo na parede, e imaginou ver uma grande luz, no meio da qual estava sua avó em pé, e com um aspecto sublime e radiante.
— Vovozinha! — gritou a menina. — Leve-me com você! Quando o fósforo se apagar, eu sei bem que não lhe verei mais! Você desaparecerá como a chaminé de ferro, como o peru assado e como o formoso nascimento!
Depois se atreveu a riscar o resto da caixa, porque queria conservar a ilusão de que via sua avó, e os fósforos lhe abriram uma claridade vivíssima. Nunca a avó lhe havia parecido tão grande nem tão bonita. Pegou a menina nos braços, e as duas subiram no meio da luz até um lugar tão alto, que ali não fazia frio, nem se sentia fome, nem tristeza: até o trono de Deus.
Quando raiou o dia seguinte, a menina continuava sentada entre as duas casas, com as bochechas vermelhas e um sorriso nos lábios. Morta, morta de frio na noite de Natal! O sol iluminou aquele terno ser, sentado ali com as caixas de fósforos, das quais uma havia sido riscada por completo.
— Queria esquentar-se, a pobrezinha! — disse alguém.
Mas ninguém podia saber as coisas lindas que havia visto, nem em meio de que esplendor havia entrado com sua idosa avó no reino dos céus."
Hans Christian Andersen

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Vocabulário para os netos




Adeus: É quando o coração que parte deixa a metade com quem fica.
Amigo: É alguém que fica para ajudar quando todo mundo se afasta
Amor ao próximo: É quando o estranho
passa a ser o amigo que ainda não abraçamos.
Caridade: É quando a gente está com fome, só tem uma bolacha e reparte.
Carinho: É quando a gente não encontra nenhuma palavra para expressar o que sente e fala com as mãos, colocando o afago em cada dedo
Ciúme: É quando o coração fica apertado porque não confia em si mesmo.
Cordialidade: É quando amamos muito uma pessoa e tratamos todo mundo da maneira que a tratamos.
Doutrinação: É quando a gente conversa com o Espírito colocando o coração em cada palavra
Entendimento: É quando um velhinho caminha devagar na nossa frente
e a gente estando com pressa não reclama.
Evangelho: É um livro que só se lê bem com o coração.
Evolução: É quando a gente está lá na frente e sente vontade de buscar
Quem ficou para trás
: É quando a gente diz que vai escalar um Everest e o coração já o considera feito.
Filhos: É quando Deus entrega uma jóia em nossa mão e recomenda cuidá-la
Fome: É quando o estômago manda um pedido para a boca e ela silencia.
Inimizade: É quando a gente empurra a linha do afeto para bem distante.
Inveja: É quando a gente ainda não descobriu que pode ser mais e melhor do que o outro.
Lágrima: É quando o coração pede aos olhos que falem por ele.
Lealdade: É quando a gente prefere morrer que
trair a quem ama.
Mágoa: É um espinho que a gente coloca no coração
e se esquece de retirar.
Maldade: É quando arrancamos as asas do anjo
que deveríamos ser
Mediunidade com Jesus: É quando a gente serve de instrumento em uma comunicação mediúnica e a música tocada parece um noturno de Chopin.
Morte: Quer dizer viagem, transferência ou qualquer coisa com cheiro de eternidade.
Netos: É quando Deus tem pena dos avós e manda anjos para alegrá-los.
Obsessor: É quando o Espírito adoece,manda embora a compaixão e convida a vingança para morar com ele.
Ódio: É quando plantamos trigo o ano todo e estando os pendões maduros a gente queima tudo em um dia.
Orgulho: É quando a gente é uma formiga e quer convencer os outros de que é um elefante.
Paz: É o prêmio de quem cumpre honestamente o dever.
Perdão: É uma alegria que a gente se dá e que pensava que jamais a teria.
Perfume: É quando mesmo de olhos fechados a gente reconhece quem nos faz feliz.
Pessimismo: É quando a gente perde a capacidade de ver em cores.
Preguiça: É quando entra vírus na coragem e ela adoece.
Raiva: É quando colocamos uma muralha no caminho da paz.
Reencarnação: É quando a gente volta para o corpo, esquecido do que fez, para se lembrar do que ainda não fez.
Saudade: É estando longe, sentir vontade de voar, e estando perto, querer parar o tempo.
Sexo: É quando a gente ama tanto que tem vontade de morar dentro do outro.
Simplicidade: É o comportamento de quem começa a ser sábio.
Sinceridade: É quando nos expressamos como se o outro estivesse do outro lado do espelho.
Solidão: É quando estamos cercado por pessoas, mas o coração não vê ninguém por perto.
Supérfluo: É quando a nossa sede precisa de um gole de água e a gente pede um rio inteiro.
Ternura:
É quando alguém nos olha e os olhos brilham como duas estrelas.
Vaidade: É quando a gente abdica da nossa essência por outra, geralmente pior.
LUIZ GONZAGA PINHEIRO


sábado, 12 de dezembro de 2009

A garotinha


O homem por detrás do balcão olhava a rua de forma distraída.
Uma garotinha se aproximou da loja e amassou o narizinho contra o vidro da vitrine. Os olhos da cor do céu, brilhavam quando viu um determinado objeto.

Entrou na loja e pediu para ver o colar de turquesa azul.
- É para minha irmã. Pode fazer um pacote bem bonito?, diz ela.
O dono da loja olhou desconfiado para a garotinha e lhe perguntou:
- Quanto de dinheiro você tem?
Sem hesitar, ela tirou do bolso da saia um lenço todo amarradinho e foi desfazendo
os nós. Colocou-o sobre o balcão e feliz, disse:
- Isso dá?
Eram apenas algumas moedas que ela exibia orgulhosa.
- Sabe, quero dar este presente para minha irmã mais velha. Desde que morreu nossa
mãe ela cuida da gente e não tem tempo para ela. É aniversário dela e tenho certeza
que ficará feliz com o colar que é da cor de seus olhos.
O homem foi para o interior da loja, colocou o colar em um estojo, embrulhou com um vistoso papel vermelho e fez um laço caprichado com uma fita verde.
- Tome!, disse para a garota. Leve com cuidado.
Ela saiu feliz saltitando pela rua abaixo.

Ainda não acabara o dia quando uma linda jovem de cabelos loiros e
maravilhosos olhos azuis adentrou a loja. Colocou sobre o balcão o já conhecido embrulho desfeito e indagou:
- Este colar foi comprado aqui?
- Sim senhora.
- E quanto custou?
- Ah!, falou o dono da loja. O preço de qualquer produto da minha loja é
sempre um assunto confidencial entre o vendedor e o cliente.
A moça continuou:

"Mas minha irmã tinha somente algumas moedas! O colar é verdadeiro, não é?
Ela não teria dinheiro para pagá-lo!"
O homem tomou o estojo, refez o embrulho com extremo carinho, colocou a fita e o devolveu à jovem.
- Ela pagou o preço mais alto que qualquer pessoa pode pagar.

ELA DEU TUDO O QUE TINHA.
O silêncio encheu a pequena loja e duas lágrimas rolaram pela face
emocionada da jovem enquanto suas mãos tomavam o pequeno embrulho.

"Verdadeira doação é dar-se por inteiro, sem restrições.

Gratidão de quem ama não coloca limites para os gestos de ternura. Seja sempre
grato, mas não espere pelo reconhecimento de ninguém. Gratidão com amor não
apenas aquece quem recebe, como reconforta quem oferece."


Volte Sempre

A imaginação é mais importante que a ciência, porque a ciência é limitada, ao passo que a imaginação abrange o mundo inteiro.

Albert Einstein